terça-feira, 16 de outubro de 2012



Por Francina Evaristo de Sousa[1]

Em 21 de junho de 1964 Lacan funda, tão só quanto sempre estivera em sua relação com a causa psicanalítica – são suas palavras – a Escola Francesa de Psicanálise, “organismo onde deve se cumprir um trabalho – que, no campo aberto por Freud, restaure a relha cortante de sua verdade; que reconduza a práxis original que ele instituiu sob o nome de psicanálise ao dever que lhe compete em nosso mundo; que por uma crítica assídua, aí denuncie os desvios e concessões que amortecem seu progresso, degradando seu emprego“ (2008, p.205). O objetivo de trabalho da Escola proposta por Lacan implica na ruptura com o modelo de organização da Sociedade Internacional de Psicanálise, da qual fizera parte e na qual, antes de sua expulsão, sentira na carne por um lado a intolerância a um julgamento interno relativo ao percurso formativo dos analistas que ali se abrigavam e por outro uma recusa a qualquer retorno e revisão crítica dos conceitos freudianos.  

A Escola de Lacan: trata-se de uma organização circular e não de uma hierarquia piramidal. É em seu modo de funcionamento que reside “a solução para o problema da Sociedade Psicanalítica” (2008, p.213). Lacan propõe aí uma distinção entre hierarquia e gradus, que do latim se refere a passo, marcha. Vejam só: se há na Escola de Lacan uma distinção entre seus membros, esta se dá nos termos do gradus, do passo, do lugar em que se encontra o analista em sua caminhada formativa. Nela “o psicanalista só se autoriza por si mesmo” e não de um ritual pré-fixado isento de mecanismos de controle e verificação. Lacan privilegia o percurso do psicanalista em sua práxis, o que implica a psicanálise em intenção e extensão, sustentadas na análise, clínica e supervisão.

Este rápido comentário está longe de abarcar a riqueza das discussões ocorridas nas reuniões mensais do Fórum do Campo Lacaniano MS, trata-se apenas de um aperitivo. Estes encontros mensais são abertos e neles fazemos a leitura e estudo dos textos Institucionais da Escola, uma ótima oportunidade para aqueles que desejam se aproximar do ensino e transmissão da psicanálise propostos por Jacques Lacan. Em setembro, o texto por nós mastigado foi o “Ato de fundação de 21 de junho de 1964” e no encontro de outubro, sob o pano de fundo do texto “Situação da psicanálise e formação do psicanalista em 1956”, demos início ao texto “Proposição de 9 de outubro sobre o analista da Escola”, este último ainda em processo de ruminação.  Estão todos convidados para nossa próxima reunião!

Bibliografia

LACAN, J. Ato de Fundação de 21 de junho de 1964. In Internacional dos Fóruns Escola de Psicanálise do Campo Lacaniano – Catálogo 2008-2012 ed. Em português. Rio de Janeiro: EPFCL- Brasil, s/d, p.205-212.

LACAN, J. Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola.  In Internacional dos Fóruns Escola de Psicanálise do Campo Lacaniano – Catálogo 2008-2012 ed. em português. Rio de Janeiro: EPFCL- Brasil, s/d, p.213-224.

 Os textos institucionais encontram-se na página da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano http://www.campolacaniano.com.br/

 

 

 



[1] Psicanalista. Pós-graduada em Saúde Mental –UNICAMP, Especialista em Saúde do Trabalhador –FIOCRUZ. Endereço: Rua João Rosa Góes, nº1445 - Dourados/MS. Fone: 84128521/34213363.
E-mail: francinasousa@yahoo.com.br
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário