Por
Francina Evaristo de Sousa[1]
Em
21 de junho de 1964 Lacan funda, tão só quanto sempre estivera em sua relação
com a causa psicanalítica – são suas palavras – a Escola Francesa de
Psicanálise, “organismo onde deve se cumprir um trabalho – que, no campo aberto
por Freud, restaure a relha cortante de sua verdade; que reconduza a práxis
original que ele instituiu sob o nome de psicanálise ao dever que lhe compete
em nosso mundo; que por uma crítica assídua, aí denuncie os desvios e
concessões que amortecem seu progresso, degradando seu emprego“ (2008, p.205).
O objetivo de trabalho da Escola proposta por Lacan implica na ruptura com o
modelo de organização da Sociedade Internacional de Psicanálise, da qual fizera
parte e na qual, antes de sua expulsão, sentira na carne por um lado a intolerância
a um julgamento interno relativo ao percurso formativo dos analistas que ali se
abrigavam e por outro uma recusa a qualquer retorno e revisão crítica dos
conceitos freudianos.
A
Escola de Lacan: trata-se de uma organização circular e não de uma hierarquia
piramidal. É em seu modo de funcionamento que reside “a solução para o problema
da Sociedade Psicanalítica” (2008, p.213). Lacan propõe aí uma distinção entre
hierarquia e gradus, que do latim se
refere a passo, marcha. Vejam só: se
há na Escola de Lacan uma distinção entre seus membros, esta se dá nos termos
do gradus, do passo, do lugar em que
se encontra o analista em sua caminhada formativa. Nela “o psicanalista só se
autoriza por si mesmo” e não de um ritual pré-fixado isento de mecanismos de
controle e verificação. Lacan privilegia o percurso do psicanalista em sua
práxis, o que implica a psicanálise em intenção e extensão, sustentadas na
análise, clínica e supervisão.
Este
rápido comentário está longe de abarcar a riqueza das discussões ocorridas nas
reuniões mensais do Fórum do Campo Lacaniano MS, trata-se apenas de um
aperitivo. Estes encontros mensais são abertos e neles fazemos a leitura e
estudo dos textos Institucionais da Escola, uma ótima oportunidade para aqueles
que desejam se aproximar do ensino e transmissão da psicanálise propostos por
Jacques Lacan. Em setembro, o texto por nós mastigado
foi o “Ato de fundação de 21 de junho de 1964” e no encontro de outubro, sob o
pano de fundo do texto “Situação da psicanálise e formação do psicanalista em
1956”, demos início ao texto “Proposição de 9 de outubro sobre o analista da
Escola”, este último ainda em processo de ruminação. Estão todos convidados para nossa próxima
reunião!
Bibliografia
LACAN, J.
Ato de Fundação de 21 de junho de 1964. In
Internacional dos Fóruns Escola de Psicanálise do Campo Lacaniano – Catálogo
2008-2012 ed. Em português. Rio
de Janeiro: EPFCL- Brasil, s/d, p.205-212.
LACAN, J.
Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. In Internacional dos Fóruns Escola
de Psicanálise do Campo Lacaniano – Catálogo 2008-2012 ed. em português. Rio de Janeiro: EPFCL- Brasil,
s/d, p.213-224.
Os
textos institucionais encontram-se na página da Escola de Psicanálise dos
Fóruns do Campo Lacaniano http://www.campolacaniano.com.br/
[1]
Psicanalista. Pós-graduada em Saúde Mental –UNICAMP,
Especialista em Saúde do Trabalhador –FIOCRUZ. Endereço: Rua João Rosa Góes,
nº1445 - Dourados/MS. Fone: 84128521/34213363.
E-mail:
francinasousa@yahoo.com.br
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