domingo, 28 de abril de 2013

IV Jornada do FCL-MS Ano 2013






IV JORNADA DO FÓRUM DO CAMPO LACANIANO DE MS:

 

“Autismo: Clínica, Ética e Política”

 

O próprio silêncio se define em relação às palavras, assim como a pausa, em música, ganha o seu sentido a partir dos grupos de notas que a circundam. Esse silêncio é um momento da linguagem; calar-se não é ficar mudo, é recusar-se a falar – logo, ainda é falar. J.P. Sartre.

 

Em sua Conferência em Genebra sobre o sintoma (1975)[1], Lacan aponta os autistas como sendo “personagens verbosos”, e afirma que ainda que tenhamos dificuldades para escutá-los não podemos dizer que não falam. Nas diferentes versões do autismo, deparamo-nos com sujeitos calados, ou com outros ainda cuja fala soa como ecos do Outro. O desafio dos analistas no tratamento do autista pode ser entendido como o de ouvir uma fala diferente da neurose. É possível pensarmos em uma fala silenciosa do autista? O que nos fala este sujeito? Se para Freud, o psicanalista deveria ser sabedor da “história da civilização, a mitologia, a psicologia da religião e a ciência da literatura”[2], atrevo-me a dizer que deveria também ouvir as pausas da canção entoada pelo autista. O psicanalista deveria secretariar a composição de cada nova nota musical ou cada novo silêncio, e jamais se colocar na posição de afinador de instrumento, pois correria o risco de “desencadear catástrofes”[3], cujos efeitos se dariam a ver no corpo, “seja no corpo-a-corpo com o outro, [...] seja a automutilação como solução desesperada do sujeito para deixar de ser solidário desse corpo que se torna por completo refém do simbólico”[4] . Para Nominé, “é preciso dizer que a posição autista interroga o fundamento das relações do sujeito com a fala e com a linguagem. O autista é alguém que parece desinteressado daquilo em que, em geral, nós estamos sobretudo confiantes, ou seja, que nós somos seres dotados de linguagem”[5]. Por isso, estes sujeitos nos interrogam com sua recusa, mas ter uma relação diferente com a linguagem não os coloca do lado de fora, ao contrário, estão nela imersos.     

A implicação ética da psicanálise, em uma de suas faces, consiste em não recuar diante dos desafios impostos pela clínica, mas também daqueles estabelecidos na cultura e na contemporaneidade. Diante desta posição psicanalítica, o que dizer das propostas governamentais de impedir o tratamento psicanalítico aos autistas? Esta questão tem ganhado espaço dentro de nossas discussões atuais, no âmbito de cada Escola ou demais instituições psicanalíticas, com a finalidade de manter o discurso da psicanálise como vivo e necessário, inclusive nos espaços de trabalho públicos.

O dito autista é uma música que, ainda que rouca ou cheia de espaços vazios, traz em si outra afinação. Afinemos nossos ouvidos!!

Convidamos a todos os interessados em discutir esta temática – tão clássica e tão atual – para que venham participar conosco desta jornada em Campo Grande-MS.

 

Isloany Machado



[1] Lacan, J. Conferência em Genebra sobre o sintoma (1975).
[2] Freud, S. A questão da análise leiga (1926/1996).
[3] Nominé, B. O autista: um escravo da linguagem. In: Autismo, o último véu. Marrai vol 2. (2001).
[4] Idem.
[5] Ibidem.
     

 
Data: 20 e 21 de setembro.

 
Convidado Internacional:
 

Bernard Nominé

Médico psiquiatra, psicanalista, membro da EPFCL, da qual foi um dos membros fundadores, ensina no Colégio Clínico Psicanalítico do Sudoeste, ensinante convidado do Colégio Clínico de Roma e de ICLES, de Milão, bem como de outras cidades da Europa como Madri, Barcelona e Atenas. Já proferiu numerosos seminários na América Latina: São Paulo, Medellin, Bogotá, Buenos Aires, San Jose, na Costa Rica, Valência, na Venezuela.

Autor de “Los avatares del amor” e de “Perspectivas de las Meninas” e de diversos artigos publicados no Brasil pela Revista Stylus, revista da EPFCL-Brasil

 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário