IV JORNADA
DO FÓRUM DO CAMPO LACANIANO DE MS:
“Autismo: Clínica, Ética e
Política”
O próprio silêncio se define em
relação às palavras, assim como a pausa, em música, ganha o seu sentido a
partir dos grupos de notas que a circundam. Esse silêncio é um momento da
linguagem; calar-se não é ficar mudo, é recusar-se a falar – logo, ainda é
falar. J.P. Sartre.
Em sua
Conferência em Genebra sobre o sintoma (1975)[1],
Lacan aponta os autistas como sendo “personagens verbosos”, e afirma que ainda
que tenhamos dificuldades para escutá-los não podemos dizer que não falam. Nas
diferentes versões do autismo, deparamo-nos com sujeitos calados, ou com outros
ainda cuja fala soa como ecos do Outro. O desafio dos analistas no tratamento
do autista pode ser entendido como o de ouvir uma fala diferente da neurose. É
possível pensarmos em uma fala silenciosa do autista? O que nos fala este
sujeito? Se para Freud, o psicanalista deveria ser sabedor da “história da
civilização, a mitologia, a psicologia da religião e a ciência da literatura”[2],
atrevo-me a dizer que deveria também ouvir as pausas da canção entoada pelo
autista. O psicanalista deveria secretariar a composição de cada nova nota
musical ou cada novo silêncio, e jamais se colocar na posição de afinador de
instrumento, pois correria o risco de “desencadear catástrofes”[3],
cujos efeitos se dariam a ver no corpo, “seja no corpo-a-corpo com o outro,
[...] seja a automutilação como solução desesperada do sujeito para deixar de
ser solidário desse corpo que se torna por completo refém do simbólico”[4]
. Para Nominé, “é preciso dizer que a posição autista interroga o fundamento
das relações do sujeito com a fala e com a linguagem. O autista é alguém que
parece desinteressado daquilo em que, em geral, nós estamos sobretudo
confiantes, ou seja, que nós somos seres dotados de linguagem”[5].
Por isso, estes sujeitos nos interrogam com sua recusa, mas ter uma relação
diferente com a linguagem não os coloca do lado de fora, ao contrário, estão nela
imersos.
A
implicação ética da psicanálise, em uma de suas faces, consiste em não recuar
diante dos desafios impostos pela clínica, mas também daqueles estabelecidos na
cultura e na contemporaneidade. Diante desta posição psicanalítica, o que dizer
das propostas governamentais de impedir o tratamento psicanalítico aos
autistas? Esta questão tem ganhado espaço dentro de nossas discussões atuais,
no âmbito de cada Escola ou demais instituições psicanalíticas, com a
finalidade de manter o discurso da psicanálise como vivo e necessário,
inclusive nos espaços de trabalho públicos.
O dito
autista é uma música que, ainda que rouca ou cheia de espaços vazios, traz em
si outra afinação. Afinemos nossos ouvidos!!
Convidamos
a todos os interessados em discutir esta temática – tão clássica e tão atual –
para que venham participar conosco desta jornada em Campo Grande-MS.
Isloany
Machado
Convidado
Internacional:
Bernard Nominé
Médico
psiquiatra, psicanalista, membro da EPFCL, da qual foi um dos membros
fundadores, ensina no Colégio Clínico Psicanalítico do Sudoeste, ensinante
convidado do Colégio Clínico de Roma e de ICLES, de Milão, bem como de outras
cidades da Europa como Madri, Barcelona e Atenas. Já proferiu numerosos
seminários na América Latina: São Paulo, Medellin, Bogotá, Buenos Aires, San
Jose, na Costa Rica, Valência, na Venezuela.
Autor de
“Los avatares del amor” e de “Perspectivas de las Meninas” e de
diversos artigos publicados no Brasil pela Revista Stylus, revista da
EPFCL-Brasil
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